PLANTANDO DÁ, SIM

domingo, 15 de julho de 2012

ONDE ESTÁ A QUINA?


A Quina criança não conhecia regras. Menina-moleque.
- Onde está a Quina?
Não se sabe. Nunca se sabia. Já cedo sumia.
Na colônia haviam cavalos, que montava em pelo.
Se a fome apertava, como se resolvia? Haviam frutas.
Também matava uma galinha, fazia a fogueirinha e comia. Conhece galinha caipira, aquelas mais caipiras ainda, que ciscam no terreiro, nos campos, soltas? Pois é. Corria até vencer a ave pelo cansaço ou pela esperteza de tantas tentativas - erros e acertos.
Podia também pescar. Sem vara, sem anzol. Tudo improvisado.
A pequena Quina se virava para comer, para brincar, independente, solta.
Os espaços na natureza também foram feitos para pensar. E a Quina pensava, admirava e sonhava. Sonhava em um dia, quando crescesse, pudesse manter sua independência, não precisar do por favor para fazer as coisas, apenas resolver-se a fazê-las e informar.
Onde está a Quina?
A menina aparecia já à tardinha. Haveria sempre de estar suja, despenteada e corada.
Menina-loira-quase-índia-quase-bicho. Independente.


Maria Joaquina Bargas Perez nasceu em 1906. Filha de espanhóis, nasceu em São João da Boa Vista, no Interior de São Paulo.
Casou-se na colônia com meu avô, Juan Antonio Perez, seu primo.
Soube por terceiros que viveram à época que as mulheres, no grupo, não poderiam sequer olhar ou cumprimentar quem não fizessem parte dele (seriam arrastadas pelos cabelos). 
Com o casamento, veio para São Paulo. Dedicou sua vida ao trabalho, à família, às pessoas que necessitassem de apoio.
Livre, independente, autêntica. Minha avó. Meu exemplo de vida.

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