Um morador de
Heliópolis, João Eudes, tornou-se notícia no jornal local, Ipiranga News.
Inconformado com um ponto viciado de entulhos,
procurou melhorias para a indigesta referência. Dialogou com outros moradores.
Juntos, procuraram a Associação de Moradores Organizada por Regularização
Fundiária Heliópolis (Amorf) e enviaram uma proposta à subprefeitura do
Ipiranga. Como resultado, a subprefeitura doou mudas e terras para a realização
do projeto, que previa a transformação do antigo ponto viciado em uma praça
florida.
Segundo João Eudes, “Aqui é o cartão postal do Heliópolis. Muitas pessoas passam por aqui
durante o dia. Quem passa e vê a sujeira que estava fica imaginando que dentro
da comunidade é pior e isso não é verdade. Os pontos viciados têm que acabar. A
prefeitura limpava de manhã e à tarde já estava tudo sujo.”
Empolgados com a ação, os moradores têm definido o
segundo espaço – na Rua Almirante Mariate
- que vai substituir lixo por plantas: uma nova praça.
O inovador, apaixonado pelo projeto, proclama: “A idéia é continuar promovendo o plantio
cada vez mais. Não vamos parar por aqui. É preciso começar pequeno para que
daqui a uns anos essas mudas virarem lindas árvores.”
São Paulo e, em especial o Ipiranga, possui área
verde insuficiente em relação a seus habitantes. Segundo recente estudo da
Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, a cidade possui 2,6m2
de verde – praças e parques - por
indivíduo. No Ipiranga, se a quantidade de m2 de área verde total
por habitante é de 10,18 – índice próximo
da meta internacional, estabelecida em 12m2 por pessoa – em contrapartida
apenas 0,92m2 é revertido em parques e praças, porque as demais
áreas são destinadas à preservação ambiental, nem sempre utilizável para o
lazer.
Um problema relacionado diretamente às comunidades
populares está ligado à estética: a imagem gravada em nossa memória é a de
construções irregulares, amontoadas, superpovoadas e mal-acabadas, onde antes
reinava o verde. Os imóveis do entorno são desvalorizados, havendo a fuga dos
antigos moradores para áreas mais nobres da cidade – ou do bairro.
Sempre me perguntei o porquê de tais habitações
jamais receberem cores. Falo de cores vivas – azul turqueza ou cobalto, vinho, roxo, vermelho, verde bandeira,
amarelo, laranja, lilás -, como já vi em casinhas à beira-mar, coloridas
com as sobras de tinta naval. Em projeto com fábricas de tintas – fica a dica à Coral, Suvinil, Sherwin-Williams
-, poderiam renovar a comunidade, tornando-a referência nacional (quiçá
mundial): ganhariam os moradores, com a valorização de seus imóveis, haveria
menor rejeição à proximidade, pelos proprietários e moradores de imóveis do
entorno e, enfim, lucraria a fábrica de tintas, em função da repercussão que
tal plano atrairia.
João Eudes iniciou o que pode ser – insisto: pode ser – uma revolução na que
já foi considerada a maior favela do Brasil. Se vingar o propósito de
transformação, será o morador digno de constar do Programa Jovens
Empreendedores.
Explico o motivo da possível indicação: soube do novo
vencedor do programa por intermédio do Dr. Jose Renato Nalini, Corregedor Geral
da Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo, na palestra Novo Perfil da
Corregedoria Geral da Justiça, proferida em 22 de maio último.
Entre tantos candidados, o eleito foi um cantor – Crioulo, que fez uma música premiada: “não
existe amor em São Paulo”. Desde os treze anos fazia música rap. Morava na
favela. Levou a mãe para estudar consigo. Daí, estudaram os dois, juntos. Hoje
a mãe, que era analfabeta, faz pós-graduação.
Dos comentários de nosso desembargador ficaram as
perguntas: “O que é ser um líder?” “O que
é liderança?” “Quem ganha mais dinheiro por ter uma boa idéia ou é uma pessoa
que simboliza a união, valores como ética, que quer melhorar o país?”
E a resposta: “Líder
é uma pessoa que inspira, tem carisma, não impõe. Inspira inovação. Muda a sua
vida e o entorno. Solidário, semeia o bom humor, tem boas idéias, inova, investe
no seu talento e no talento alheio. Devemos prestar atenção na força dos
invisíveis.”
Concluo com os meus
votos de sucesso e a recomendação: pense grande, João Eudes!
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