Quando não nos víamos, preparava ela meus vestidos e casacos, lindos! Mesmo depois que cresci, deixava guardadas coisas de que sempre gostei de comer: era a minha avó! Mais do que avó: a pessoa a quem mais amei.
Não precisávamos de palavras: sempre bastou o olhar. Para nos compreendermos, para nos dizermos de nosso amor.
Eu, sempre aluna; ela,... (clique em "mais informações" para ler mais)
professora de corte e costura, de segunda a quinta-feira. Nas sextas, sábados e domingos, a lousa era minha, onde rabiscava desenhos coloridos.
Meu avô tinha um jipe, que usava para o trabalho (antes, tivera um pequeno caminhão). Daí minha fixação pelo jipe da Willis, quatro por quatro, cinza. Todas as tardes, quando chegava em casa, tomava um gole de conhaque e sentava-se na sala. Fazia-se de sisudo. Era um doce de pessoa.
Lá, tive minhas companheiras de infância: Babinha, Márcia, Cristina, Verinha. Com a Márcia, certa vez, apresentamos uma peça teatral, na garagem de sua casa e convidamos a vizinhança para assistir a história de Joãozinho e Maria e a casa de doce e a bruxa. Márcia mudou-se. Babinha chegou quando eu já estudava.
As maiores recordações guardo da Cristina e da Verinha. Cristina era filha da Anita, amiga de minha avó. Morava em uma casa com quintal imenso, uma verdadeira chácara, com muitas, muitas árvores enormes, pés de tudo quanto era coisa. Além de gramado, jardins e uma escadaria imensa. Comíamos tomate verde, limão, brincávamos no gira-gira. Coisas de criança-menina. Com a Anita, comi pela primeira vez gnocchi em formato de conchinhas.
A Verinha veio, também, depois. Quando cresci, mudou-se. Seu pai construíra um prédio ao lado da casa de minha avó, onde moravam nos andares superiores. Nos vimos, creio, duas vezes apenas, após sua mudança para outros ares, antes da morte de meu avô.
Dias intermináveis! Guardo até hoje um carinho muito especial por todas elas, que se fizeram recordação. Cresci, casei, descasei, casei outra vez. Meus avós foram-se, com o intervalo de onze meses de diferença. Antes de partir, ela sofrera muito. O imóvel, vendido, foi partilhado pelos filhos.
Anos depois, precisava ver a casa. Do lado de fora, apenas para me despedir. Não era a mesma. Tudo o mais também havia mudado: além da casa, o entorno. Faltava a cor, o capricho e o verde de antigamente.
Meus avós sempre vestiram cinza e azul. Vovô optava também pelo xadrez, em tons de cinza, sempre acompanhado de sua boina, também cinza. Tudo o mais era cor: vibrante, firme, enérgica e energética.
Parece que com a ida deles, foi-se a luz. De certa forma, foi assim mesmo.
Tanto bem que fizeram, para tanta gente. Era, antes, a época dos imigrantes, e não faltou abrigo, emprego, conforto. Foram padrinhos de mais de cem crianças, de mais de uma geração. Abrigaram mesmo famílias. Tia Satiko morou com minha avó, antes de casar. Ela, irmãs, mãe, todas as mulheres de uma família.
Depois que se foram meus avós, muita gente nova continuou a chegar, cada vez mais apressadamente. Como apressadamente construíram suas casas. No sentido inverso, as casas que restaram foram, com a passagem do tempo, desmoronando aos poucos.
Outro ritmo, outros tempos, novas pessoas e perspectivas. É um mundo novo. O que se foi, com a luz que havia, ficará apenas na recordação.
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Maria da Glória
Perez Delgado Sanches
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