A NATUREZA NÃO DESENHA RETAS

Olhe ao seu redor: nada do que é natural, feito pela natureza, é reto. 
Antes, é feito de curvas, enleios, sinuosidades, parábolas, idas e vindas, até que se chegue ao destino ou a completar o desenho.

Assim são os rios, as folhas, grãos e pedras, flores e nuvens, cada...
pincelada, ainda que à primeira vista nos pareçam traços retos, sem desvios.
A natureza é sábia e encarna em cada ser o caráter vencedor das linhagens em disputa. Cada contendor guarda em si as curvas com que foi dotado. Curvas originais, perfeitas.
O homem, se e quando pretende imitar o natural, constrói formas chamadas orgânicas, que acompanham o ritmo ditado pela natureza.
Só o reto é humano: menor distância entre dois pontos, visto sob a perspectiva humana.

Tal ponto de vista, no mais das vezes, representa uma agressão, quando distorcemos aquilo que a natureza, com sua mão generosa, engendrou. 
O é quando distorcemos o rio, em seus "esses", para que chegue mais rapidamente à foz e sejam ocupadas suas margens. Inevitavelmente a "correção" é sentida e interpretada como erro, pois contrária à natureza do rio.  
É quando poluímos, quando nos agrupamos em grandes cidades e criamos demandas sempre maiores para nossas necessidades, criadas artificialmente ou não. 
Não importa: o aglomerado é, já, uma transgressão ao natural. Os ventos que não correm, os acúmulos, as terras devastadas para o plantio de alimento, água, criação de energia. Para o homem nada é o bastante. 

Em Itanhaém, ao contrário, é possível conviver mais com o que é de Deus do que o que é do Homem: nuvens, águas, verdes e vidas, em toda parte e até onde a vista alcança, vista que se encomprida até horizontes demorados e belos. Horizontes curvos, plenos de curvas repletas de beleza. Que se renovam a cada dia. Porque vivos.

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Maria da Glória Perez Delgado Sanches