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É certo que o bolsa família é necessário. O Brasil, historicamente, exibe enorme afastamento entre as classes mais favorecidas e a indigência.
Desde pequena ouço falar na fome que avassala o sertão nordestino. Exemplo de narrativa brilhante sobre a seca e o retirante é O Quinze, de Rachel de Queiroz (leia o livro, assista o filme). Não consigo atinar na possibilidade de ajuda melhor do que a assistência material àquele povo, com suprimentos, remédios e instalações adequadas. São perdidos da sorte, abandonados, escória. No entanto, brasileiros, como qualquer um de nós.
Há circunstâncias em que não basta ensinar a pescar. Falta ao aluno energia para, sequer, segurar a vara, quanto mais para retirar o peixe do anzol.
Não obstante, é necessário que sejam providenciadas condições para que o peixe seja recebido, pois do contrário o beneficiado jamais saberá das artes da pescaria. Estará sendo criado um vício, como na história em que o povo do precipício ora para que lhe caiam víveres, sem jamais tê-los procurado.
Quando minha avó Quina era viva, uma mulher jovem e forte bateu a sua porta, a procura de esmolas. Naquele tempo em que se admitia estranhos em casa, ela ofereceu um tanque de roupas em troca de uma importância em dinheiro. Havia quem lhe lavasse as roupas e limpasse a casa e o oferecido representava o dobro do que receberiam diaristas, para uma jornada completa de trabalho.
A moça se ofendeu:
- Não vim procurar trabalho, mas dinheiro. Pode ficar com o seu tanque!
Dias atrás soube de um caso semelhante vivido por uma conhecida:
Sua avó ficou cega. A despeito da cegueira, cultivava um belo jardim, trabalhando-o todos os dias. Nesse jardim havia uma abóbora enorme.
Um dia, uma mulher, igualmente moça e forte, bate à porta e pede a abóbora. Oferecem-lhe a abóbora, roupas e mais outras coisas (dinheiro, se o caso), em troca da lavagem do quintal. A pedinte, ressentida, replica:
- Se eu quisesse trabalho, iria trabalhar. Eu pedi dinheiro e não trabalho!
No restaurante, às 11:30h, surge mais uma jovem e forte mulher, à procura de comida para levar para casa.
- Volte às 15:00 horas, com uma vasilha sua.
É o dia-a-dia que nos ensina que a história do peixe é verdadeira. Colhe-se o que se planta. E é preciso aprender a pescar.
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Maria da
Glória Perez Delgado Sanches
Membro Correspondente da ACLAC –
Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.
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