"Deus é uma estrela cadente? o que é que estou dizendo! e como tenho coragem de expor essa bobagem? Bem, foi no verão passado; eu vinha da casa de minha irmã e quem muito precisa de Deus sempre ergue seu olhar para o céu, um céu azul de mar de tarde cálida, e na calçada enfeitada por algum casal e uma ou outra vizinha que sai para tomar a fresca olhando para o alto vi uma estrela cadente... um desejo! pronto! é preciso pedir uma graça à estrela cadente! mas sinto vergonha só de lembrar, e não sei se terei coragem de contá-lo nestes fólios. Podia pedir mais saúde para minha mãe... podia pedir a confirmação de minha bolsa... podia pedir ainda mais: que meus estudos continuassem até eu me formar em medicina... podia pedir, por que não? uma bicicleta para o Dardito... ou a loteria, para todos nós esquecermos os apertos e pagar serviço doméstico para minha mãe... e o que foi que eu pedi? só me ocorreu (naquele instante em que me despi diante de mim mesma) o que podia ter pedido a Graciela, ou talvez a Laurita também: quatro letras me subiram à garganta, quatro letras me embriagaram como um gole de aguardente mais forte, e uma menina mais... pedi o Amor."
O trecho foi extraído do diário de Ester, do livro A traição de Rita Hayworth, de Manuel Puig.
Lindo, profundo.
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Maria da
Glória Perez Delgado Sanches
Membro Correspondente da ACLAC –
Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.
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